Correção da Semana 2 do PET 1 - 1º ano EM
ATIVIDADES
1 - Leia o texto e responda o
que se pede:
COMPENSAÇÃO
Cecília Meireles
Hoje eu queria apenas abrir um álbum antigo de fotografias, onde não
houvesse gente de olhos duros e mãos aduncas. Onde umas boas senhoras pousassem
no papel com delicadeza, não para sobreviverem eternamente, mas para mandarem
seu retrato às amigas com finas letras de “sincera afeição”. Um álbum onde
aparecem uns bons velhos que não faziam negociatas, que não sabiam multiplicar
dinheiro, que usavam roupas desajeitadas, sofriam de reumatismo, liam Virgílio
e Horácio, e não tinham medo de fantasmas do porão. De lá de dentro de seus
retratos essas senhoras estariam dizendo:Meus filhos” nada disso vale a
pena...” (E saberíamos que falavam de parentes sôfregos, ávidos de partilhas,
uns querendo herdar as terras do morro – outros, a mata; outros, a várzea –
todos vivendo já do testamento, antes mesmo da extrema-unção...) Hoje eu queria
ficar folheando este álbum, onde não desejaria encontrar aqueles herdeiros.
Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas só de bichos,
de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da Natureza,
sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades,
elogios, celebrações... Hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se,
desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral, do nascimento à morte,
muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio. Uma existência total, no seu
mistério. (E antes da flor? – Não sei.)
Esta ignorância humana. Este silêncio do universo. A sabedoria. Hoje eu
queria estar entre as nuvens, na velocidade das nuvens, na sua fragilidade, na
sua docilidade de ser e deixar de ser. Livremente. Sem interesse próprio.
Confiante. À mercê da vida. Sem nenhum sonho de durarem um pouco mais, de
ficarem no céu até o ano 2100, de terem emprego público, férias, abono de Natal,
montepio, prêmio de loteria, discurso à beira do túmulo, nome em placa de rua,
busto no jardim... (Ó nuvens prodigiosas, criaturas efêmeras que estais tão
alto e não pretendeis nada, e sois capazes de obscurecer o sol e de fazer
frutificar a terra, e não tendes vaidade nenhuma nem apego a esses casos!) Hoje
eu quereria andar lá em cima nas nuvens, com as nuvens, pelas nuvens, para as
nuvens...
Hoje eu quereria estar no deserto amarelo, sem beduíno, camelo ou
rebanho de cabras: no puro deserto amarelo onde só reina o vento grandioso que
leva tudo, que não precisa nem de água, nem de areia, nem de flor, nem de
pedra, nem de gente. O vento solitário que vai para longe de mãos vazias.
Hoje eu queria ser esse vento.
1. Identifique e escreva o tema principal que é tratado no texto.
Justifique com alguma parte do texto.
O texto tem como temática o desejo do eu lírico de abster-se
do trivial, das lutas cotidianas e das buscas sem fim; para viver um hoje do
“ser e deixar de ser”, de dar vazão à subjetividade das coisas, de viver o que
é prazeroso. Como podemos ver em: “Hoje eu queria estar entre as nuvens, na
velocidade das nuvens, na sua fragilidade, na sua docilidade de ser e deixar de
ser. Livremente. Sem interesse próprio”.
2. Leve em consideração o seguinte trecho para responder o que se pede:
“Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas só de
bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas
solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos,
mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações... Hoje eu queria apenas
ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral,
do nascimento à morte, muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio.
Uma existência total, no seu mistério. (E antes da flor? – Não
sei.)
a) A autora compara duas
variantes linguísticas. Quais são elas? Transcreva pelo menos três palavras que
representem cada uma das variantes utilizadas no texto.
A autora divide o texto entre sonhos e realidades (caóticas).
Partindo desse ponto de vista, pode-se dizer que ela apresenta a escolha de
variantes para contribuir para materializar no texto o que é metaforizado por
ela. No trecho a seguir há o uso da
variação social, notem que as palavras estão próximas do cotidiano, da fala
comum, ou seja, fora das “amarras” gramaticais. Já em “Hoje eu queria apenas
ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral,
do nascimento à morte, muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio. Uma
existência total, no seu mistério.” Nesse caso há variação histórica contendo
usos não recorrentes e permeados por regras gramaticais. Podemos dizer também
que há variação estilística ou situacional, pois as escolhas das variações
foram feitas, propositalmente, para atender ao processo de criação do texto.
Irei aceitar duas das três variações citadas por mim acima,
pois a atividade pede apenas duas.
b) Grife todas as preposições
que você identificar no trecho acima.
3. - Observe os textos 1 e 2:
Texto 1:
“Hoje eu queria estar entre as nuvens, na velocidade das nuvens, na sua
fragilidade, na sua docilidade
de ser e deixar de ser.”
Texto 2:
“Hoje eu queria estar contra as nuvens, na velocidade sob as nuvens,
para sua fragilidade, para sua docilidade de ser e deixar de ser.”
Os textos 1 e 2 possuem uma estrutura semelhante e as palavras
negritadas neles são preposições. O sentido criado no texto 1 é o mesmo que no
texto 2? Qual a diferença de sentido que a mudança de pre posições causou em
cada texto?
O sentido criado nos dois textos não é o mesmo, pois as
preposições possuem significados diferentes. No texto 1, o eu lírico se coloca
dentro das ações com objetivo de
participar deste mundo utópico, criado
por seus desejos. Já no texto 2 ele mostra-se avesso a tudo isso. Algumas
expressões também mudam de sentido. Por exemplo, Estar “entre” que é igual a
dentro/junto e “contra” que traz a ideia
contrária. Também podemos ver alterações em: na sua fragilidade e na sua docilidade que trazem o sentido de
fazer parte; já nos trechos para sua
fragilidade, para sua docilidade o
sentido é o de ser o causador.
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